quinta-feira, 20 de agosto de 2015

Nono andar

Talvez eu não saiba. Talvez eu não queira sentir. Haverá algum furor, nesta lacuna em que estou inserida, que me guie para um sítio mais distante? Tão longínquo que nem os meus próprios lumes possam avistar, tão sombrio que os meus medos se desvaneçam sem eu reparar. Mas, ao mesmo tempo, é apenas no seio deste lugar que, por fim, me sinto acolhida, como se o meu lar não fosse mais do que um leve, porém momentâneo, gostinho de um pedaço de céu. Eis que perco os meus sentidos. Não a visão, não o olfato e muito menos o tacto. Involuntariamente, deixo-me levar pelo toque do inferno e o gosto do paraíso, que me desnorteiam completamente, perco-me sem me dissipar por completo, pois apenas deixo a minha alma esvoaçar, ainda que trémula. Contudo eu asseguro-lhe que irei procurá-la, mais tarde, quando a saudade se apoderar de mim e devaneios vierem ao meu encontro. Aquele nono andar nunca foi tão acolhedor.